Das coisas que eu não entendo...


   Roupas que custam a renda per capita de um família de classe média.

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Resoluções de Ano Novo

Não, não é cedo para as resoluções de Ano Novo. Tudo bem que ainda temos pela frente um  fim do mundo, um Natal e um Réveillon para enfrentar, antes do aclamado dia primeiro de janeiro. Mas o meu novo ano é diferente, isso porque meu ano começa no dia seguinte ao meu aniversário, que se aproxima rapidamente. Isto é, nada de pular ondinha, comer lentilha e contar as uvas... minhas preces e orações para que tudo ocorra bem acontecem justamente na metade do mês de dezembro, quando Deus, ou seja lá quem anote os pedidos e reclamações, está com os ouvidos livres e desimpedidos para ouvir toda a minha ladainha para o ano que se inicia. Assim, fica tudo guardadinho e ninguém perde detalhe nenhum dos meu pedidos. Apesar de notar uma tendência a não realização de quase nada, prefiro acreditar que é mais minha culpa, do que do meu ritual cabalístico de passagem.
Eu gosto de fazer aniversário, gosto de pensar que tenho mais 365 dias, se o ano não for bissexto,  para realizar tudo aquilo que não consegui nos últimos 365, ou 730. Sei que fico mais velha e me aproximo do "botox" , mas como diz sabiamente Dona Mariínha, minha avó : "Pelo santo a gente beija a pedra". Verdade, gosta de fazer aniversário querida, aceite ficar velha!
Eu aceito! Numa boa, acho que toda idade é mais legal que a anterior, resta saber se pensarei assim as sessenta anos quando me lembrar dos vinte. Por outro lado, fica a saudade, das coisas que fiz, dos dias perdidos regado a muita televisão e pouco ar-condicionado, do peso que eu não perdi, da vela do aniversário anterior, da sensação de ter treze anos novamente, de um bocado de coisa.
Vai começar um novo ano para mim, um ano que como os últimos  vinte e três, eu quero que seja diferente. Quero mudar as coisas, ser melhor, crescer ,de verdade e não apenas no R.G., viajar, ser alguém mais feliz e um monte de outras coisas que com o tempo vão vir. Por isso, para me manter focada nesses objetivos eu pensei em fazer uma lista com vinte e quatro  resoluções para um novo ano, resoluções estas que podem entrar em ação muito antes do Ano Novo.

Um feliz novo ano pra mim e pra quem em algum dia ler isso.


um. noventa dias sem comer doces e no resto do ano, só nos fim de semana.

dois. ler melhor, porque ler mais não deu certo, acabei lendo porcaria.

três. dormir melhor.

quatro. ter mais imaginação, para não invejar os criativos.

cinco. não voltar ao refrigerante.

seis. beber mais água.

sete. ter um emprego de verdade.

oito. escrever um artigo cientifico, apesar da dislexia não autorizada.

nove.  menos internet, mais caminhadas.

dez. não desistir da dança (mais uma vez)

onze. gastar menos com comida.

doze. gastar menos ainda com futilidades.

treze. mais abraços de mãe.

quatorze. menos noites acordada estudando.

quinze. ir a praia.

dezesseis. cortar os carboidratos depois das 18:00

dezessete. comer salada uma vez por dia.

dezoito.  um ano livre de Mc Donald´s

dezenove.  ser mais feliz.

vinte. ser menos preocupada.

vinte e um. lembrar de devolver t-o-d-o-s os livros da biblioteca

vinte e dois. cozinhar mais para o amado

vinte e três. comer menos

vinte e quatro.  deixar a preguiça de lado e fazer meu próprio bolo de aniversário.


só besteiras, para um 2013 mais feliz.

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Quarenta e seis

   



Se existe uma coisa que me incomoda, até mais do que meu vários quilos na balança, é a etiqueta que me deram. Sim, porque em um mundo onde cada vez mais você é o que você compra, eu nada mais seria do que um jeans 46, com um sapato 39, um celular ultrapassado e uma camiseta 44.

A verdade é que não somos nada disso, para falar mais a verdade ainda, só lembramos disso quando somos obrigados, ou nos obrigamos, a nos espremer em provadores lotados com peças que foram feitas para caber na gente, mas que na realidade, não cabem. Pensamos nisso, quando aquele colega vem mostra o novo Iphone 17 e diz que somos atrasado porque o melhor aplicativo do nosso telefone ainda é fazer ligações. Às vezes ainda nós sentimos mal, porque somos as únicas no supermercado que não está usando uma ecobag da Balenciaga, e depois nos sentimos mal por ter nos sentido mal com aquilo.
Nós somos as conversas que temos, os filhos, os maridos e namorados, a família, o trabalho, as descobertas, os sonhos, as noites mal dormidas, os filmes que assistimos, os livros que deixamos na estante com a promessa de que um dia serão lidos, os bolos que murcham recém saídos do forno, as cervejas que tomamos e as que não devíamos ter tomado, toda aquela batata frita que o treinador da acadêmica disse para a gente não comer, mas ainda assim comemos. Enfim, somos um conjunto de coisas muito além de um pedaço de pano costurado no cós da calça só para fazer "pinicar".

Mas o que ainda me incomoda é o fato de que o mundo insiste em nós classificar assim. Hoje somos divididos em pettit, regular, plus size. Não importa se você é gerente de uma multinacional, aquele blazer lindo com corte italiano ficará apenas na imaginação, afinal ele não é para você, pois alguém disse que aquilo não cai bem em uma gerente de uma empresa renomada de manequim 50. Alguém já tomou essa decisão pro você, ser não pensante e incapaz de saber o que lhe cai bem ou não. Apesar de conseguir gerir mais de 5 mil funcionários no seu trabalho.

Rotular as pessoas é muito mais fácil do que se imagina, a humanidade vem fazendo isso ao longo dos séculos, o que deixa tudo ainda mais espantoso. Dizemos que estamos em uma sociedade livre, intelectualizada, desenvolvida e humanizada. Tratamos nosso filhos de forma muito diferente do tratamento as crianças na idade média. Nosso sistema de comunição nos permite conversar com alguém do outro lado do mundo em tempo real. Mas nós ainda não perdemos o hábito ancestral de rotular e segregar. Quantas adolescentes, assim com eu fui um dia, não desejaram usar "aquele" vestido na festa da melhor amiga. Quantas meninas, assim como eu, desejaram não ouvir piadas no corredor da escola, nem ser alvo de "brincadeiras" que só eram engraçadas para aqueles que faziam, afinal não é nada engraçado para alguém ser atirado dentro da lixeira no pátio do colégio. Quantas, assim como eu, perderam parte da sua adolescência e da sua saúde, em busca de um corpo que não era o seu.

Será que ainda não aprendemos? Ainda passaremos os resto da vida em conflito com nos mesmas por uma coisa, que assim como todas as outras, não nos define, é apenas parte do que somos. Em uma sociedade onde as pessoas crescem cada dia mais, é revoltante que ainda existam rótulos para cada uma delas, não apenas nas roupas. A meu ver não existe nada mais desencorajador do que entrar em uma loja e ver uma única arara plus size em uma super loja de 2000m². Então eu pergunto, por que gastar rios de dinheiro, com propagandas, parcerias e tudo mais, se única coisa que todos nós queremos é ser como todas as outras, usar o que todo mundo usa, ter o direito de escolher o que nos cai bem, e se não ficar bom usar do mesmo jeito, porque é a nossa opção. Então para que segregar, dividir, separar, rotular os tamanhos e as medidas, quando o mais lógico seria que ao invés de regular, plus, pettit, midi, sãoseioquelá size, existisse apenas o bom e velho size.

  
"Tenho em mim todos os sonhos do mundo" e todos os tamanhos também.


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Sobre mim: Sim, meu manequim é 46! Apesar de  passar boa parte da minha vida lutando contra o meu corpo e fazendo as maiores loucuras para ser alguem que eu não sou, me encontro em um processo de aceitação, onde eu ainda começo muita dieta, mas não faço disso a minha vida. Foi então que eu percebi, que independente do meu peso, do meu manequim, da minha altura, eu sou quem eu sou, ou seja, sou muito mais do que isso. Por fim, sim, na minha segunda semana na escola nova, aos treze anos, me atiraram no tonel do lixo no meio do pátio no recreio.

*a frase acima é de Fernando Pessoa


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